É sempre bom o cinema brasileiro estar trazendo novos
talentos na direção. Medida Provisória foi o primeiro filme de Lazaro Ramos
como diretor e agora temos a paulista Thais Fujinaga, que realizou
curtas-metragens exibidos e premiados em festivais ao redor do mundo,
como L (2011), que recebeu uma menção especial no Festival de Berlim.
Também escreveu o roteiro do filme A Cidade Onde Envelheço (2016), de
Marília Rocha, e das séries Terrores Urbanos e Onisciente. 

A Felicidade das Coisas é sua estreia na direção de
longas-metragens e o mais o interessante da proposta do seu filme no qual ela
colabora também no roteiro é a descrição das mulheres, principalmente da
protagonista, Paula (Patricia Saravy) enfrenta as dificuldades financeiras de
uma família na qual o marido não participa ativamente e ela ainda está
esperando um terceiro filho, enquanto passa seu tempo entre uma praia feia e
uma recém-adquirida e modesta casa de veraneio no litoral paulista, onde ela
pretende construir uma piscina para seus filhos.

Com as dificuldades financeiras, a piscina torna-se uma metáfora
da vida de Paula, uma espécie de recipiente vazio, inútil e que precisa ganhar
vida, que é a água, pelo qual Paula se torna determinada a ter, algo que simboliza
um chamariz para que seus filhos tenham algo de bom.

De forma bastante sutil, o roteiro de Fujinaga vai
trabalhando não só a metáfora de conquista para uma mulher, mas também trabalha
com a metáfora do materialismo, que simboliza o ter por acaso e isso se complementa
com os sonhos de Paula, quando vemos ela em um barco cercado de golfinhos, isso
é uma espécie de representação de Paula como uma mulher que se sente sozinha no
meio de uma família inteira e ela precisa nadar nesta piscina para ela ter um
momento de vitória por meio de uma comunhão material e a representação perfeita
da piscina como um espaço de desapego de preocupações e da busca pela
felicidade em uma sociedade mercantil tornam os momentos com a protagonista
algo de se refletir com muitas mulheres que se frustram ao montar uma família sem
o apoio patriarcal, algo que Fujinaga consegue criticar em segundo plano, com a
ausência física e até verbal das conversas por telefone de Paula com o seu marido
descompromissado.

A situação econômica é tão alarmante que a frustração
causada por não conseguir terminar de montar a piscina e a sutil opressão
patriarcal provocam em Paula um sentimento de tédio cada vez mais
acentuado. Uma sensação de mal-estar que se reflete em seu rosto, que
vemos visivelmente mais cansado e a sufocando pelo peso de suas
responsabilidades. Outros destaques ficam para Magali Biff como a avó que joga
panos quentes nas tensões com Paula e que protege os netos dos problemas de
adultos, com isso acabamos vendo um pouco as constantes demandas de seu filho
adolescente, interpretado por Messias Gois, que está conhecendo um novo mundo,
se tornando um contraponto interessante para que Paula precise confrontar suas
próprias expectativas e frustrações.

No geral, A Felicidade das Coisas é uma estreia reflexiva
e positiva de Thais Fujinaga na direção, o longa trabalha sutilezas e metáforas
de uma frustração de uma mulher que materializa uma piscina como uma conquista
pessoal com um problema que está a consumindo por dentro.


Nota: 3,5/5

Sinopse:

Paula sonha em construir uma piscina para os filhos na sua modesta casa de praia. Quando os planos se desfazem por conta de problemas financeiros, ela se vê cada vez mais sufocada pelo peso das responsabilidades.


Trailer:

Continue ligado no Protocolo XP nas redes sociais, estamos no Facebook e Instagram.
Sem Avaliação

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.