O experiente documentarista luso-brasileiro Sérgio Tréfaut (co-fundador
do festival DocLisboa), faz sucesso em Portugal por explorar temas lusitanos e
europeus, agora em seu novo longa chamado A Noiva, Tréfaut usa experiência
ocasional com um material histórico ou político e em apenas 81 minutos nos
apresenta um híbrido de docuficção extremamente realista e integrante.

A Noiva causa bastante comoção devido ao tema ardente e à
aparente frieza com que a figura da protagonista é retratada, uma francesa de
vinte anos que fugiu do Ocidente junto com seu companheiro terrorista, morto no
Iraque após um ataque, é forçada a viver em um campo de prisioneiros, acusada
de compartilhar e ser parte ativa da causa dos extremistas.

Eles perguntam se ela quer se despedir dele, mas ela se
recusa. Em vez disso, ela não desiste de participar da execução, enquanto uma
lágrima escorre lentamente por sua bochecha. A cena em questão demonstra como Tréfaut
define o seu longa, mostrar uma pessoa que teve seu coração está petrificado, mas
que ainda tem seu sentimento marcado por uma solidariedade inalterada do propósito
em que se colocou, tudo bem que que a circunstância em que ela está exposta se
relaciona com a eventualidade de ser condenada como terrorista, mas o terror
autoimposto faz com que a protagonista continue forte em lutar por suas
convicções e filhos.

Esse momento até é escancarado com os olhos chocados da
sogra (interpretada pela conhecida atriz ibérica Lola Duenas), que chegou ao
local para recolher os restos mortais de seu filho executado. Fora ainda que o filme
de Sérgio Tréfaut, que conscientemente renuncia a qualquer tentação narrativa sensacionalista
ou pura, inspirando-se na condição real em que as jovens noivas europeias têm
vindo a ser encontradas convencidas por colegas terroristas a segui-las para
aderir à causa jihadista.

O resultado é uma narração áspera e seca, que não dá atenção
a nenhum indício de justificação sentimental, mas coloca a protagonista em uma
posição de orgulho desapego daqueles que até implorando lhe pedem uma
explicação de como ela pode ser encontrada em uma situação tão extremo, com
crianças expostas a perigos em um território dilacerado por uma guerra de
cultura e religião que parece não ter trégua.

Uma longa jornada de documentação é a base de um filme que
vê o diretor muito familiarizado com a questão da guerra civil que assola uma
das áreas mais quentes e desastrosas do planeta. Outro destaque vai para a
jovem protagonista interpretada por Joana Bernardo, que consegue apenas com a
força do seu olhar comunicar um desespero que parece assolá-la, mas não a tira
do orgulho que a levou a embarcar num percurso de vida dedicado ao martírio
físico e moral.

No geral, A Noiva nos mostra uma mulher que luta por amor, mas
que é orgulhosa a ponto de não ficar muito chateada e nem ao menos arrependida do
caminho que ela decidiu seguir e é justamente nesse retrato áspero e tão pouco
poético que reside a força mais genuína do filme. 

Filme assistido na 46º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.*


Nota: 3,5/5

Trailer:


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