Baseado no romance “Kinema no Kamisama” da popular
romancista Maha Harada, que se inspirou em sua própria família e experiências, o
lendário e experiente diretor Yoji Yamada traz em O Deus do Cinema, produção que
marca o 92º filme em sua carreia, o estilo que marcou os longas japoneses que
conquistaram o mundo afora, uma mistura de brilhantismo e alegria que faz com que
espectador viaje em um mundo mágico de fantasia.

Servindo como uma comemoração do centenário da Shochiku
Films, Yoji Yamada dirige um filme que se desdobra em dois eixos, um no
presente e outro no passado, com os dois eventualmente acabam se misturando à
medida que o filme se aproxima do final. O primeiro arco se desenrola como um drama
familiar, com os problemas que Goh está causando em sua família sendo o tema
principal, a tensão entre ele e sua filha (interpretada pela excelente Terajima
Shinobu) sendo o elemento mais atraente, pelo menos até o neto vir à tona.
Particularmente a forma como Ayumu está farta de sua mãe por não a deixar
depois de tanto sofrimento é bem divertido de assistir, ao mesmo tempo em que
também se torna o motivo de apresentar o arco do passado em um claro esforço do
diretor em apresentar o Puxa, pelo menos até certo ponto.

Este segundo arco está realmente em um nível mais envolvente
e com as relações com os jovens Goh e Terashin, com o cinema e também com duas
mulheres que moldaram suas vidas. O sonho deste último de se tornar um diretor e
sua paixão pelo jogo, que na verdade começou desde sua juventude e o amor de
ambos os amigos por uma garota, Yoshiko, cuja família tinha um restaurante,
além de lidar com atores, atrizes e diretores famosos da época, enchem a
narrativa com uma sensação de nostalgia muito atraente e com um drama
suficiente para entreter todos os espectadores. Fora ainda que a câmera de
Yamada acaba dando destaque para esforço de Goh para filmar seu próprio filme com
a justificativa em apresentar um amor e amizade que são misturados em um enredo
que é tão divertido que acaba mascarando alguns problemas de narrativa do
longa.

Esses problemas são escancarados justamente no ponto na troca
romantizada dos arcos que Yamada acaba oferecendo e tudo ali acaba se tornando
bastante irreal, tornando a abordagem justificada pelo estilo dos filmes da Shochiku
Films e também da cultura japonesa no geral, fazendo com que essa demonstração se
torne um pouco vaga e antiquada hoje em dia em produções que estão explorando histórias
com um maior realismo, como por exemplo os filmes sul-coreanos.

Por outro lado, o filme como uma fábula acaba funcionando
muito bem e se beneficia da fotografia de Masashi Chikamori que captura com
primor o realismo das épocas em que o longa se situa, temos um colorido intenso
que aumenta a nostalgia que o filme emite, tendo uma vertente cinematográfica bastante
apelativa. Fora ainda que o ritmo é relativamente rápido e combina com a
estética geral, enquanto os flashbacks são idealmente colocados dentro da
narrativa para que a história faça todo o sentido.

No geral, O Deus do Cinema pode ser um pouco ingênuo ou
romantizado em certos momentos, mas o longa consegue atingir com êxito em ser
uma homenagem a era de ouro da Shochiku Films, o experiente Yoji Yamada
nos envolve em cenas que possuem certa magia nostalgica em um filme bastante
divertido.


Filme assistido na 46º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.*

Nota: 3,5/5

Trailer:

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